Não sei se
acontece com toda a gente, mas, comigo, sempre acaba por chegar um momento em
que as palavras ficam menores do que eu preciso, e tudo o que escrevo parece
nunca chegar perto do que queria dizer realmente, ou a realmente fazer-lhe jus.
Com isso, por
sorte, o mundo continua longe de ter descrições definitivas para a maior parte
das coisas, o que, convenhamos, é um privilégio.
Por sorte maior
ainda, e desejavelmente com mais sucesso que eu, os poetas podem continuar o
seu trabalho fantástico de tornar visível a todos a beleza de coisas que, sem eles, tantas vezes não passariam de trivialidades
e lugares-comuns.
Mas, no meu
caso, da mesma forma que atravesso momentos em que as palavras parecem sempre ficar aquém do
necessário, também atravesso outros em que sinto que elas tomam o freio nos
dentes e, numa correria difícil de controlar, saem por aí em ganhos de
eficiência. De tal forma que parecem aumentar tanto os seus significados
possíveis, que novas portas, para novas idéias, se abrem como convites - a mais
e mais palavras...
A coisa fica
ainda pior quando se torna visível o silêncio dos outros, quando um
sub-reptício bocejo acontece, ou quando uma mirada disfarçada ao relógio revela
uma mal contida ansiedade por espaços mais abertos, capaz de, por si mesma,
gerar desatenções e menores cuidados. Vale, então, pesar o que digo e o que me
é dito, e avaliar reciprocidades.
Essa é a hora em
que preciso parar, redefinir rumos, avaliar a isenção com que me avalio. Nasce
assim o momento frágil, sensível ao beijo como ao látego, em que os caminhos
tantas vezes percorridos, são postos em questão, e torna-se realmente
necessário definir como seguir em frente, e de que maneira.
E se procuro me
arrepender o menos possível do que digo ou faço, também não é menos verdade que
necessito monitorar-me, aferir-me com freqüência, e creio até ser visível na
minha escrita o cuidado com que guardo um pouco de tempo para mim mesmo, de vez
em quando, e me reciclo, me recomponho, entro em faxina, ou, simplesmente, me
encaro com alguns cuidados, por detrimento inevitável ao tempo e aos cuidados
que, normalmente, dedico ao quotidiano e aos outros.
Frequentemente,
nesta busca constante, descubro com agrado que já estava no meu rumo, fosse ele
qual fosse, e que posso perseverar nele até que algo surja em contrário e mude
o meu norte. Outras vezes, descubro que não, e que existe um o necessário
ajuste – festivo, algumas vezes, sofrido e desagradável outras tantas.
Em todas elas,
óbviamente, tem de prevalecer o homem, primeiro. O possível poeta, depois. E
algum vago afastamento de permeio aos dois.
( 2008. REVISADA EM 2009 )
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