Eu vi
quando a gota de chocolate se formou, no bolo que ela acabara de morder, à
minha frente, do outro lado da mesa.
Deslizou para o
canto da boca, devagarinho, um traço castanho riscando o vermelho brilhante do
baton. De mãos ocupadas, a desconhecida procurou limpá-la com uma lambida
engraçada.
Vendo-me a
observá-la, encolheu a língua e ficou muito vermelha, enquanto a gota
prosseguia desenhando o seu caminho castanho pelo queixo dela abaixo.
Instintivamente,
peguei num guardanapo de papel e tentei impedir o pior, mas não deu tempo, e a
gota de chocolate escorreu até que, finalmente, pingou para dentro da sua
camisa branca, alastrando por debaixo dela, escurecendo, e lentamente
desenhando um seio...
Então, eu percebi
que ela me olhava, olhando para ela, e , confesso, foi a minha vez de ficar sem
graça. Mas não havia mais o que fazer ... E, sem outra saída, procurei sorrir,
algo encabulado, de guardanapo na mão à altura do seu queixo, olhando aquele
seio de chocolate que se revelava.Foi nesse momento que os seios dela se
empinaram e pareceram aumentar de volume, captando definitivamente a minha
atenção.
Quando a olhei
nos olhos, já um brilho irreverente, divertido, substituíra a anterior
expressão de embaraço por uma outra totalmente diferente, de puro desafio
feminino.Rimos os dois. Conversamos muito, nessa tarde, e comemos vários
bolinhos de chocolate, talvez na esperança de que mais alguma gota nos
aproximasse...
Acabámos amigos,
rindo bastante, e quando saímos para a rua fria, lá fora, juntos, eu levava na
mão uma caixa cheia de bolinhos de chocolate, ainda quentinhos. E no peito, toda a esperança do mundo.
Agosto, 2007
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